MEDHTO reúne movimentos sociais para debater o avanço do agronegócio e a destruição ambiental

Com foco em agroecologia, racismo ambiental e luta popular, os debates evidenciaram os desafios e caminhos da resistência nos territórios

O Centro de Direitos Humanos de Araguaína promoveu, nos dias 6 e 7 de junho, o seminário “Direitos Ambientais e Justiça Climática: Cultivando práticas alternativas pela defesa da vida e da Terra”, no Campus da Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT), Araguai no Campus da Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT), na, com apoio do Movimento Estadual de Direitos Humanos e Ambientais do Tocantins (MEDHTO). O objetivo foi provocar reflexões sobre a conjuntura socioambiental, o racismo ambiental, experiências de resistência popular e práticas agroecológicas nos territórios do estado.

Um dos principais eixos debatidos foi a luta histórica em defesa dos rios Araguaia e Tocantins. Lideranças relembraram a criação, nos anos 2000, do Movimento de Proteção aos Rios Araguaia e Tocantins (MPTA), que mobilizou ações contra a hidrovia e denunciou os impactos socioambientais de grandes projetos como barragens e ferrovias. A importância de retomar o trabalho de base em comunidades ribeirinhas, nas praias e nas cidades, foi destacada como estratégia de resistência frente ao avanço do capital e à destruição ambiental, com ênfase na valorização dos saberes tradicionais e da agroecologia.

A coordenadora do MEDHTO, Maria Vanir Ilídio, lembrou que a pauta ambiental passou a ser integrada de forma mais efetiva à atuação do movimento a partir de um projeto financiado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), ao final da pandemia, em 2022. “Além da defesa dos direitos humanos, o MEDHTO passou a aderir as campanhas em defesa do meio ambiente, da água, das árvores e dos ecossistemas, que também possuem direitos. Hoje, o movimento segue engajado em diversas frentes”, destacou.

Coordenadora do MedhTO, Maria Vanir Ilídio.

O racismo ambiental foi abordado por Dhiogo Thomaz, coordenador-geral do Centro de Direitos Humanos de Araguaína, que explicou a origem do conceito de “raça” e sua ressignificação histórica. Ele ressaltou que, embora o termo tenha sido legitimado por instituições como a ciência e a igreja no passado, hoje o racismo deve ser compreendido em sua dimensão social e estrutural. Citando a intelectual Nilma Lino Gomes, Dhiogo destacou o papel do movimento negro como alfabetizador da sociedade brasileira, resgatando o termo “raça” para dar visibilidade às desigualdades vividas pela população negra, inclusive nos territórios rurais.

Sobre a conjuntura política e ambiental, o Engenheiro Agrônomo, José Wilson Silva, explicou que “a correlação de forças políticas no Congresso Nacional é desigual. As bancadas do agronegócio, da segurança pública e da ala evangélica (a chamada BBB), dominam os principais debates e impõem seus interesses sobre temas como orçamento, licenciamento ambiental e distribuição de terras. Enquanto isso, trabalhadores e movimentos sociais seguem sub-representados. Se a gente não encarar a política como um campo de disputa real, vamos continuar sendo governados por quem legisla em causa própria”.

Ainda sobre o tema, Bianca Silva, assistente social e diretora estadual de Políticas para Promoção da Igualdade Racial enfatizou a importância do conhecimento real dos territórios para a formulação de políticas públicas. “É impossível implementar políticas eficazes sem compreender quem são os atores que constroem e sustentam esses territórios”, alertou. Ela também destacou os desafios enfrentados em comunidades como o Quilombo Nova Olinda, que possuem estruturas organizacionais matriarcais e expressiva resistência cultural.

O engenheiro florestal Eduardo Santana, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Araguaia-Tocantins, afirmou que a agroecologia é movimento, ciência e prática, e não pode ser dissociada da luta política. “Ela precisa articular universidade, movimentos sociais e agricultores, respeitando os saberes comunitários e combatendo o avanço do agronegócio e o assédio de grandes projetos que impõem o uso de agrotóxicos”, destacou.

Quilombo Dona Juscelina e saberes das raizeiras

A luta pela retomada do território no Quilombo Dona Juscelina, iniciada na década de 1970, também foi destacada. Um novo projeto de produção de medicamentos naturais a partir de plantas medicinais, financiado pelo Fundo Casa, Caixa Econômica, FAPT e CDR, foi apresentado como exemplo de resistência cultural e preservação ambiental liderada por mulheres. As raizeiras de Muricilândia também compartilharam seus saberes sobre medicina natural com os participantes do seminário.

Resistência à Hidrovia Araguaia-Tocantins

Valéria, fundadora do CDHA e militante histórica, relembrou a origem da resistência à Hidrovia Araguaia-Tocantins, denunciada desde os anos 1990 como projeto de privatização dos rios e ameaça aos modos de vida locais. O MPTA, com apoio do CDH e do Ministério Público Federal, atuou com formações nas praias, exibição de vídeos e ações com comunidades urbanas e ribeirinhas.

“Precisamos retomar a mobilização corpo a corpo, resgatar a memória das lutas contra barragens como a de Estreito e levar esse debate para a universidade e os espaços públicos”, afirmou. Valéria também criticou projetos como a Ferrovia Norte-Sul, que trouxeram destruição ambiental e não beneficiaram as populações locais. “A luta precisa superar o medo com coragem e organização popular”, concluiu a militante.

Provita no Tocantins

Na ocasião, a coordenadora estadual do MEDHTO, Maria Vanir Ilídio, anunciou que o movimento foi convidado a assumir a gestão do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita) no Tocantins. A escolha é resultado do histórico de atuação do MEDHTO em casos de risco, como o do massacre de Miracema, que levou à inclusão de um jovem no programa, e de uma mulher do norte do Tocantins acolhida em outro estado.

CJEA

Durante o seminário, o Coletivo Jovens Educadores Ambientais (CJEA) utilizou das tecnologias interativas para sensibilização ambiental disponibilizando os óculos de realidade virtual com a exibição do filme Amazônia Viva, proporcionando uma imersão audiovisual na floresta e reforçando a importância da preservação da biodiversidade amazônica.

Reunião MPF

E nesta terça-feira, 10, o Medhto vai reunir online com o Ministério Público Federal, às 10h, para continuar o debate sobre a Hidrovia Araguaia Tocantins.

Seminário fez parte da programação da Assembleia Geral do MEDHTO e reuniu movimentos sociais, pesquisadores e comunidades na Unitins de Araguaína.  Foto: Divulgação / MEDHTO

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Ascom MedhTO

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